A segunda mesa redonda do seminário de capitalização, intitulada "sem a cooperação, não teria sido possível", reuniu quatro projectos: FIBNATEX, APSAT, SUST-FOREST e AGUA FLASH que demonstraram, graças às suas experiências, a condição sine qua non que constituiu a cooperação transnacional. Estes projectos puderam realizar correctamente as suas acções, graças ao carácter complementar da sua parceria, reforçando assim as vantagens da cooperação transnacional. O carácter complementar da parceria destes projectos manifestou-se através das competências adicionais, da heterogeneidade dos interesses dos membros da parceria e da importância da confiança entre os beneficiários devido à interdependência das suas acções.
O projecto FIBNATEX I colocou em rede centros de competências complementares para obter têxteis inovadores a partir de fibras naturais de cânhamo. Os conhecimentos adquiridos durante o projecto foram transferidos às empresas associadas. Os resultados estão a ser capitalizados por FIBNATEX II. Paulo Cadeia, Director de gestão de inovação do Centro Tecnológico das Indústria Têxtil e do Vestuário de Portugal (CITEVE) e beneficiário principal do projecto explicou as dificuldades próprias do sector têxtil e como os esforços se centraram na formação de uma parceria capaz de reunir os diferentes agentes da cadeia de valor do sector. "O projecto tentou formar uma parceria complementar que incluía centros de investigação têxtil, indústrias têxteis e produtores de cânhamo". Esta complementaridade entre os membros da parceria permitiu que cada um pudesse trazer o seu "know-how" para o projecto: "As empresas não têm tempo para realizar investigação. Em contrapartida, esta parceria desenvolve mecanismos inovadores. É por isso que este projecto é importante, porque permite-nos desenvolver investigação e transferir os resultados às empresas e, paralelamente, criar novas actividades no tecido empresarial do espaço SUDOE". Para alcançar estes objectivos, FIBNATEX procurou igualmente que as empresas associadas ao projecto participassem tanto nas reuniões da parceria como no desenvolvimento da investigação. Esta complementaridade dos conhecimentos e domínios de actividade dos parceiros do projecto, bem como o carácter intrínseco e exclusivo da cooperação transnacional, permitiu criar sinergias entre a parceria, que garantem progressos importantes para o sector, os quais não teriam sido possíveis sem a cooperação.
Philippe Lattes, responsável de projectos europeus, de investigação e do espaço do Pólo de Competitividade Aerospace-Valley e beneficiário principal do projecto APSAT, explicou como a parceria soube desenvolver diferentes aplicações telemáticas de utilidade para os beneficiários do projecto, mas também de interesse geral para a sociedade. "Cada região implicada no projecto participou no desenvolvimento destas aplicações, de acordo com as suas respectivas competências. Os centros tecnológicos da parceria definiram os sectores a desenvolver, de acordo com a necessidade das regiões implicadas. O princípio para a pré-selecção das temáticas consistia em que pelo menos duas regiões pretendessem implementar estas aplicações nos seus respectivos territórios. Aerospace-Valley realizou um acompanhamento das acções, enquanto que os centros tecnológicos da parceria apoiaram directamente o desenvolvimento tecnológico destas tarefas. A parceria conta, por um lado, com parceiros capazes de gerir e de desenvolver estas aplicações tecnológicas e, por outro, com colectividades locais, beneficiárias do projecto, que demonstram grande interesse em implementar estas aplicações nas suas regiões". APSAT assegurou a transferência de conhecimento e a troca de boas práticas entre os membros da sua parceria que, graças à partilha de um mesmo interesse e de um "know-how" diferente, puderam desenvolver e realizar uma tecnologia inovadora.
Um terceiro testemunho sobre a importância de participar num projecto de cooperação com uma parceria de competências complementares foi apresentado por Félix Pinillos, responsável do sector florestal da Fundação CESEFOR e beneficiário principal do projecto SUST FOREST. O projecto SUST FOREST promove a extracção de resina como uma utilização florestal rentável, que contribui para o emprego rural e para a conservação e prevenção de incêndios nos pinhais do espaço SUDOE. Trabalhando sobre a mesma linha e enfrentando as mesmas dificuldades, Felix Pinillos indicou em que consiste a complementaridade da parceria, em que "os beneficiários franceses provêem do sector industrial, os parceiros de Portugal representam a gestão dos riscos de incêndios e os beneficiários espanhóis agrupam a actividade de extracção de resina. Foram várias as empresas associadas ao projecto e muito importantes para o bom desenvolvimento do projecto". O sector resineiro está em vias de desaparecimento. No entanto, o facto de o projecto SUST FOREST reunir diferentes actores, como o sector empresarial (representado pelos produtores de resina natural e as indústrias transformadoras), os decisores de políticas públicas, os proprietários florestais (particulares ou públicos), e ser capaz de superar os desafios relativos à heterogeneidade dos interesses dos beneficiários, demonstram a importância e o sucesso da cooperação transnacional para recuperar uma actividade económica sustentável no Espaço SUDOE.
Um último exemplo de projecto desenvolvido com sucesso, graças à complementaridade da parceria, foi apresentado por Francisco Comín, professor e investigador do Instituto Pirenaico de Ecologia do Conselho Superior de Investigações Científicas e beneficiário do projecto AGUA FLASH. Este projecto desenvolveu um protótipo capaz de avaliar os riscos de degradação da qualidade da água durante os períodos de cheias das bacias agrícolas do SUDOE. Francisco Comín explicou como foi desenvolvida, de maneira transnacional, a ferramenta de AGUA FLASH, a saber "cada parceiro era responsável por uma tarefa, o que permitia alimentar a seguinte, até ao fim do processo. Este sistema é arriscado, tornando-se fundamentais a confiança e a complementaridade entre os parceiros do projecto. Actualmente, esta mesma parceria está a executar o projecto ATTENAGUA e observamos que a parte administrativa é mais fácil de gerir com uma parceria experiente". As investigações empreendidas, no âmbito do projecto AGUA FLASH, foram realizadas em diferentes regiões do SUDOE e, embora a solução técnica encontrada seja local, serve todos os espaços aquáticos com uma grande presença de produtos agrícolas. Foi provada a utilidade da ferramenta e foi testada em quatro territórios diferentes do espaço SUDOE". As ferramentas desenvolvidas, no âmbito do projecto AGUA FLASH, tiveram um impacto notável e poderiam constituir uma ajuda ao desenvolvimento de recomendações estratégicas para a preservação dos recursos aquáticos do território SUDOE.
Estes quatro testemunhos demonstraram claramente o valor acrescentado da cooperação, a qual permite o desenvolvimento de soluções conjuntas para problemas para o conjunto do território SUDOE e fora do mesmo. A complementaridade dos beneficiários e dos territórios implicados, a nível dos conhecimentos e competências colocados à disposição dos projectos, permite obter soluções que nunca poderiam ser desenvolvidas de maneira individual ou num só território piloto.